sábado, 30 de outubro de 2010

SEMENTE

Henrique de Oliveira Moreira



Ainda sou semente
Meio sem vida, enrusgada,
Tosca,
Energia condensada;
Quase sempre maltratada,
Prestes a nem sei lá.

Mas um dia,
Caio em terra boa
E começo, e começo
A me esparramar:
Vou mostrando minhas raízes,
Vou crescendo, vou subindo,
Vou rebentando
Essas cascas, essa dureza, esse receio...

E vou me tornando planta,
Devagarzinho me torno santa;
E mostrando meus espinhos (proteções adquiridas com o tempo),
Espinhos até não poder mais...

Então, explodo
Em botão,
Em flor,
Em cheiro,
Em forma,
Em vida
Que de ver é só beleza!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

“Da criança e do jovem que fui ao educador que sou.”

     Graças a Deus, estou na escola desde os quatro anos de idade! É um espaço que conheço bem e gosto de estar. Tenho lembranças de algumas fases de minha vida escolar e a maioria delas me causa bastante alegria e satisfação.
     Consigo me lembrar do primeiro dia em que minha querida mãe me levou para o "Jardim de Infância"! Chorei na porta da escola, não queria abandonar a segurança que tinha com aquela jovem mulher; contudo, em alguns dias me acostumei. Tinha conseguido um ambiente acolhedor e repleto de crianças. Brincava muito e gostava de brincar com massinha e pintar com tinta e giz de cera. Ah, sinto o cheiro, sinto a textura daqueles materiais! Como era bom brincar na hora do recreio, minha lancheirinha cuidadosamente preparada por minha mãe! Ufa!
     Na primeira série foi quando eu aprendi a ler na biblioteca. Lembro-me da situação em que a professora, ou melhor, a tia nos levou para a biblioteca e nos emprestou alguns livrinhos antigos, meio empoeirados; mas que me transportavam para um mundo colorido jamais experimentado antes. Depois desse dia eu ia sozinho à biblioteca pegar livros para levar para casa. Isso se repetiu até à quarta série (atual quinto ano).
     Durante as séries finais do Ensino Fundamental não me recordo de ter tido incentivo para a leitura de livros literários, o que me indigna até hoje! Fui retomar minhas leituras somente no colegial, época que tive um extraordinário professor de Literatura Brasileira e Portuguesa, Ilustríssimo Senhor Professor Bernardes. Um homem de rara inteligência que contava-nos histórias e trechos maravilhosos de livros de literatura. A partir de uma dessas histórias contadas por ele, comecei a ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Creio que o Professor Bernardes me despertou para a literatura. E como ele fazia, conto histórias para meus alunos e eles adoram!
     Durante esse período, tive muita sorte, pois não tinha que trabalhar, como é comum acontecer com muitas crianças em nossa sociedade. Não tínhamos regalias, porém era-nos cobrada, insistentemente, responsabilidade em relação aos estudos. Fiz alguns cursos nessa época: Operador de Telex, Datilografia, Auxiliar de Escritório e Inglês. Do último tenho ótimas recordações... mais um professor magnífico: Ilustríssimo Senhor Professor Rodolfo, figura fantástica que fez por mim mais que apenas dar aula, cuidou de mim como um ser humano que fazia parte da mesma sociedade em que ele estava, me chamava pelo nome.
     Através de minha facilidade com a Língua Inglesa, resolvi prestar vestibular para o curso de Letras. Passei. Aí sim comecei a ser um leitor de verdade, devorava livros de iniciação científica e da literatura universal. Nessa caminhada conheci livros maravilhosos de Shakespeare, Kafka, Hemingway, Hesse, Saramago, Assaré, dentre muitos outros; e minha paixão pela literatura se mantém viva até os dias de hoje. Quando estou 'pra baixo', sei que é hora de buscar um bom livro de literatura, só assim me acalmo!
     Após esses esplendorosos anos de busca e aquisição de conhecimento, fui praticamente jogado dentro de uma sala de aula! No primeiro dia como professor, na primeira aula, já tive que separar uma briga de alunos e acabei levando um soco no pescoço. Hoje rio com colegas dizendo que pior do que isso não pode ter nada!
     Aos poucos estou aprendendo como lidar com as variadas situações e problemas dentro da escola, desde o preenchimento de um diário até resolução de conflitos. Tento explicar aos meus alunos tudo aquilo que eu penso que não sabia na época que tinha a idade deles para que sejam melhores do que eu e tenham menos dificuldades em suas vidas. Gosto muito de estar em sala de aula, sinto me realizado quando algum aluno aprende e atribui isso a mim. Sei que não fui eu o construidor do conhecimento, mas fui um colaborador para essa construção. Isso me gratifica. Por isso, tento tratá-los com o maior respeito possível para que possamos, ao final de nossa caminhada, ter a plena convicção de que fizemos o melhor que poderia ter sido feito.